4 de dez. de 2006

Ciber-ativismo



Esta é boa : nos dias anteriores às eleições legislativas do Reino de Bahrein dia 25 de novembro passado, os ciber-ativistas locais descobriram que através das fotos de satélite do Google Earth ( e Google Maps ) poderiam ter uma visão detalhada das propriedades, ilhas, marinas, campos de golfe, palácios, iates pertencentes à família real. O governo bloqueou os aplicativos do Google e uns 25 sites que reproduziram as imagens, mas liberou após três dias cedendo a pressões.

A oposição diz que a família real é dona de 80% das propriedades do país ( 30 ilhas e ilhotas, 692km² ). A população enfrenta graves problemas de habitação e emprego.

Nos dias seguintes às notícias, disparou a popularidade dos sites e dos mapas do Google.

Fica uma dica para se fazer o mesmo por aqui no país campeão mundial de desigualdade social : sabe-se que a riqueza existe atrás dos muros, mas o efeito que marcou Bahrein foi vê-la por dentro.


Notícia Financial Times
Uma notícia original em html e todos os detalhes em pdf aqui
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2 de dez. de 2006

Desenhos - Wilson Junior, "Juninho"

Os desenhos abaixo são de Wilson Junior, um jovem de Taubaté-SP, para a banda Supercordas, do Rio.
Chama a atenção não só a beleza sofisticada como a adequação perfeita do espírito de cada capa com o sentimento e a característica das músicas de cada álbum.
O Juninho vai longe ! ( juninho343@hotmail.com )

Amplie clicando sobre a imagem




Tem passado na TV ( nov-dez-2006 ) um disco da Som Livre que lembra esta capa. Esta é do primeiro semestre de 2004.



Lei Maria da Penha

Nestes tempos tem havido debate sobre o tema da violência contra a mulher. A cada notícia observo que há uma palavra que parece interdita – COVARDIA.

Governos gastam fábulas em propagandas educacionais. Mas noto sempre que evitam o que realmente poderia mudar comportamentos.

Como algo curto e grosso, assim : BATER EM MULHER É COISA DE COVARDE !

Poderia ter o efeito das ‘ações afirmativas’ : em alguns anos o cacife dos tais ‘fodões’ poderia tornar-se algo a esconder - eficazes resultados.

Não haveria porque não lembrar aos trogloditas - com as corretas considerações aos motivos porque assim o são, mas não deixando de contar com o efeito do meio-formador - que mulheres são as nossas mães, as nossas filhas, as nossas irmãs, elas são as grandes escolhidas para que a gente exista, pô !

Cada vez mais acho que tem muito de INVEJA nisso – machos, já pensaram em nascer fêmea, com a capacidade de germinar um ser igual, ponto ( ponto do tipo infinito-reflexivo ) ?

Você, macho, já refletiu acerca deste seu poder de haver nascido com uma capacidade macha VITAL para que tudo aconteça, maaaas de um modo aleatório, não-identificado, sem caráter, fugaz ? Pois reflita e tranqüilize-se de seu papel ( quem sabe um papel comportamental, não-hormonal ) Ou será mesmo que a dificuldade em alcançar tal tranqüilidade é a própria razão de ser do machismo ?

Tudo isto pode ser por causa das tais culturas-tradições, fundamentais – para o bem e para o mal.

Durma-se com um barulho destes !

( mas não deixo de achar que este negócio de bater em mulher tenha a ver com as características naturalíssimas dos seres vivos, uns gostam do outro sexo, outros não. A questão é dos que têm dificuldade na definição se gostam ou não e não assumem – alguns destes reagem ao enigma - batendo ).
(também não deixo de analisar que esta minha situação de separado e meio encalhado não tenha a ver com não estar entendendo nada disso ).
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Musas II


Olha, é a Julie Christie (no metrô de Londres), não é, é sim. Desceu na mesma nossa estação Kew Gardens. Estava vestida de yipiúra, linda, e sentou num muro esperando alguém. Conferi perguntando mas para mim não era necessário, só aproveitei para ter falado com ela, para esta minha posteridade. We are fans from Brazil e um lindo sorriso de resposta ( devia ter ficado conversando mais, a situação emocional atrapalhou ). Long long time ago.
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Gentilezas

Ela dizia que eu era parecido com o



Eu respondia que ela era parecida com a


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1º de dezembro

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30 de nov. de 2006

brasil

Lan

Dias atrás precisei sair com o carro neste Rio de Janeiro. Ninguém merece morar em grandes cidades brasileiras.
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Manual de sobrevivência para machos latinos II

Das gajas boas

Machos amigos, acautelai-vos porque as Gajas Boas andam aí! As fêmeas apresentam-se de duas formas: as gajas boas e as gajas. As gajas boas são aquelas que nos agradam aos olhos logo num primeiro contacto, sem ser preciso procurar pontos de interesse. São aquelas que têm glândulas mamárias de dimensão generosa – ou pelo menos as que cabem na perfeição na mão de cada macho -, duas nádegas bem feitas, pernas bonitas e um frontispício bonito também. Já as gajas, são apenas as gajas. Se não são gajas boas são só gajas. Aquelas que na rua não nos fazem virar a cabeça e não motivam assobios nem olhares libidinosos.
No entanto, amigos machos, a melhor fêmea para uma vida em conjunto é a gaja. Pura e simples. A gaja boa não é boa fêmea para esse efeito. Se estais adormecidos, explico-vos porquê.
A gaja boa sabe que é boa. Sabe porque nós lhe damos indicações nesse sentido, sabe porque tem espelhos em casa e porque as outras gajas lho mostram com as suas invejas bem femininas.
As gajas boas sabem que são boas e jogam com isso. Não precisam esforçar-se para conquistar, os homens estão sempre disponíveis a um estalar de dedos. É possível que os homens que lhes aparecem não sejam sempre os que desejam, mas a oferta será sempre grande, ainda que necessite de um criterioso processo de selecção já que, lamentavelmente, nem todos os machos são bons machos.
As gajas boas deslizam pelas ruas espalhando glamour por tudo quanto é lado. Mexem-se de outra forma, vestem de outra forma, falam de outra forma. As gajas, puras e simples, as que a natureza não dotou de atractivos imediatos, têm um trabalho acrescido: o de mostrar aos machos que são atraentes, à sua maneira. E porque não andam cheias de machos à sua volta, sabem que o macho que têm foi conquistado com esforço. E dedicam-se a esse macho.
Mas as gajas boas podem saltitar de macho em macho. Não precisam esforçar-se muito para ter um parceiro, basta estalar os dedos. E para o macho que tem uma gaja boa todos os dias há perigos novos. Há novos machos a competir pela companhia dessa gaja boa. Nunca há segurança com uma fêmea. Mas com uma fêmea que é gaja boa, essa segurança é ainda menor. Para segurança acrescida – pese embora nunca garantida, não o esqueceis – escolham sempre as gajas, puras e simples. Deixem as gajas boas no domínio das vossas fantasias e procurem viver com uma gaja do mais normal que há. Far-vos-á muito mais felizes, se a tratarem bem, i.e., se a fizerem feliz também, com o interesse acrescido de, por não serem óbvias, terem atractivos escondidos que só vocês conhecem.

Tom Jobim









Viver no exterior é bom mas é uma merda,
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Viver no Brasil é uma merda mas é bom.
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Desenhos : O Rio de Jano

Supercordas - Ruradélica

28 de nov. de 2006

Simples

Passeio de barco em Parati. A baleeira alugada era das que saía da praia do Pontal, não do cais principal.

O barqueiro ficou à vontade e participante durante todo o passeio, como entre amigos.

Falante, só adjetivava tudo assim :

“Fora de série” para BOM
e
“Fora do sério” para RUIM



50s

Para quem gosta de desenhos e ilustrações dos anos cinquenta, vale uma visita ao The Museum of mid-century illustration
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Robert Altman (1925-2006)

Cinema a cinquenta metros de casa é bom.
"A última noite", agora à tarde.
Uma comovente delícia o filme de despedida de Robert Altman. A Prairie Home Companion é sobre o último programa de auditório de uma rádio no meio-oeste americano, vendida para demolição. Uma doçura de filme.


AQUI a filmografia do diretor de M*A*S*H, Voar É Com Os Pássaros, Quando Os Homens São Homens e tantos outros bons filmes.

24 de nov. de 2006

A vida em quadrinhos

Carro chinês "Liebau", fabricado pela Chang Feng, apresentado no Shangai Auto Show.

23 de nov. de 2006

Mergulho


Segundo lugar no "Digital Camera Photographer of the year 2006", categoria Animais & Natureza (Angela Davidson).


Só aqui


Tempos atrás conversava com um amigo sobre algumas exclusividades do nosso país :

- Uísque “Chivas Regal” – Nos anos 80 ( ou 70 ? ) lançaram a marca. Não pegou, apesar de ser um ótimo 'blended', mas continuam produzindo até hoje porque em um único país teve (tem tido) grande aceitação : o Brasil.

- Espiritismo – Parece que nem em Lyon, onde nasceu Allan Kardec, conhecem o espiritismo. Mas é uma religião das mais importantes no Brasil. Aliás – penso eu – uma das melhores no quesito custo-benefício.

- Orkut – Os todo-poderosos do Google o criaram acreditando num sucesso planetário, mas só colou mesmo no Brasil, onde tem até zilhões de jovens que acham que a internet é o Orkut.

- A aviação civil administrada-controlada pelos militares e não pelo ministério dos transportes.
Uma vez ouvi que acontecia em dois países : Brasil e Uganda.
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Zumbi dos Palmares

A Sociedade Floresta Aurora é o principal marco da comunidade negra de Porto Alegre.
O clube existe desde 1872 - antes da abolição da escravatura.

Um de seus membros foi João Cândido Felisberto, o “Almirante Negro” da música de João Bosco e Aldir Blanc, que em 1910 viria a ser líder da Revolta da Chibata no Rio de Janeiro, um dos fatos mais importantes da história brasileira.

Na foto vemos Brizola e D. Neuza visitando o Clube como deputado ou governador, na década de 50.

Por esta e por muitas outras – para mim – desde sempre foi o único político de digna e real estatura aqui no país dos Sarneys, dos FHC lesas-pátrias, dos Lulas.

Já ouvi dizer que o Almirante João Cândido Felisberto morreu em 1969, vendendo peixe na feira noturna da Praça 15, tendo como única renda fixa uma pensão que o mesmo Brizola lhe concedeu quando governador do Rio Grande do Sul.

Ah, Brizola, que Deus o tenha.

1 de nov. de 2006

Esperanto

Esperanto é a mais falada das línguas planificadas, criada pelo oftalmologista e filólogo Ludwik Lejzer Zamenhof, que publicou a versão inicial do idioma em 1887. A sua intenção era criar uma língua de muito fácil aprendizagem, que servisse como língua franca, internacional, para toda a população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes).

Traduzindo :

Esperanto estas la plej multe parolata internacia planlingvo. Ĝia nomo venas de Doktoro Esperanto, la plumnomo per kiu L. L. Zamenhof publikigis la bazon de la lingvo en 1887. La intenco de Zamenhof estis krei facile lerneblan, neŭtralan lingvon por la internacia komunikado, kiu tamen ne malaperigu la jam ekzistantajn lingvojn.

Fernando Pessoa


“Há grandes lapsos de memória,

Grandes paralelas perdidas,

E muita lenda e muita história,

E muitas vidas, muitas vidas.”


Mário Quintana


Da Realidade

O sumo bem só no ideal perdura...

Ah! Quanta vez a vida nos revela

Que “a saudade da amada criatura”

É bem melhor do que a presença dela ...

31 de out. de 2006

Love letters

Seis de março de 2001

Se escrevesse mesmo estas coisas para ela, acho que começaria falando do óbvio, de como estas situações são complexas e sensíveis, de quanto as coisas mais simples têm a capacidade de se revestir em filigranas embaralhadas, das dificuldades intrincadas dos encontros, da tendência fluida e natural aos desencontros.

Em algum momento teria que louvar a vida, trágica e bela. Inimaginável pensá-la diferente... de exatamente como ela é !

Estaria acontecendo uma sedução.

Provavelmente a sedução mais light, mais sutil que já teria recebido.

Falaria que cada vez que escreve alguma coisa ou aparece, minha cabeça enlouquece. Que neste turbilhão passaram impressões de só aparecer acompanhada de alguém (wrong). De que os sentimentos estavam sutilmente lançados e só caberia esperar reações.

Mas o desafio é também tentar imaginar o que possa rolar na cabeça dos outros, que a magia das mentes demanda considerar os diferentes entendimentos, as diferenças.

Então diria que julguei que deveria explicitá-los.

{ Ah, como – em minha cabeça - combina escrever coisas assim para ela - ouvindo árias... }

Explicitá-los

... pois já imaginou descobrir daqui a 15 anos que havia o clima, mas ela não entendeu ? ! ?

Realmente não saberia dizer - ainda que tenha manifestado mil vezes - se notou que sempre foi objeto da minha adoração ? Desde sempre quando descobri que existia.

[ nesta altura caberia interessante falar-lhe de para quantas pessoas na vida comentei que tem uma presença que não é só beleza - ora, a beleza - que, quando ela chegava, não importa quantas pessoas havia, fazia-se um silêncio muito estranho. Que sempre me fascinou e que sempre juraria que não estava acontecendo só dentro da minha cabeça].

Se escrevesse estas coisas para ela, assim num imeiu, como ela as leria ? Oui, non merci ? Ou o quê ?

Não sei.

Mas haveria a tranquilidade de conhecer seu equilíbrio, sua delicadeza, sua honestidade, sua sensibilidade. Ou não ?

Porque entendo que é uma pessoa, uma mulher, que de qualquer modo - na vida da gente - terá sido um privilégio ter conhecido.

Não sei.

Acho que vou escrever umas coisas destas para ela...

Tribunal Judicial da Comarca de Cascais

Explicações de um operário português sinistrado, à Companhia Seguradora, a qual estranhou como ocorreu o acidente. Este é um caso verídico,cuja transcrição abaixo foi obtida através de cópia de arquivo da Companhia Seguradora. O caso foi julgado no Tribunal Judicial da Comarca de Cascais.

TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE CASCAIS

Excelentíssimos Senhores.

Em resposta ao pedido de informações adicionais informo:

No quesito nº 3 da participação no sinistro, mencionei a expressão :

"Tentando fazer o trabalho sozinho" como causa de meu acidente. Disseram na vossa carta que deveria dar uma explicação mais pormenorizada, pelo qual espero que os detalhes abaixo sejam suficientes :

Sou assentador de tijolos. No dia do acidente estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo, de 6 (seis) andares. Quando acabei o meu trabalho, verifiquei que tinham sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar para baixo à mão, decidi colocá-los dentro de um barril com a ajuda de uma roldana, a qual felizmente já estava fixada num dos lados do edifício, no 6º andar.

Desci e atei o barril com uma corda, fui para o telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagar (de notar que no quesito nº11 indiquei que o meu peso era de q 80 quilos). Devido à minha surpresa por ter saltado repentinamente do chão, perdi a minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Na proximidade do 3º andar, embati no barril que vinha a descer. Isto explica a fratura do crâneo e clavícula partida.

Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos das mãos estarem entalados na roldana. Felizmente que já tinha recuperado a minha presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos (refiro-me novamente ao meu peso indicado no quesito nº 11). Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao 3º andar encontro o barril que vinha a subir. Isto justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações das pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente que minimizou os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e, felizmente, só fraturei 3 vértebras.

Lamento, no entanto, informar que enquanto me encontrava caído em cima dos tijolos, com dores e incapacitado de me levantar, e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais que a corda e então desceu e caiu em cima de mim partindo-me as duas pernas.

Espero ter prestado as informações solicitadas do modo como ocorreu o acidente.

30 de out. de 2006

Êxtase II



Cedo de manhã saí a navegar pela baía de Parati, sozinho num bote inflável com motor de popa de 15 HP, pouco porém suficiente para “voar” bastante rápido. Passada a Ilha do Araújo, começo a ouvir alguns ruídos agudos que me põem em estado de atenção – afinal, os veículos que voam ou navegam demandam mais observação do que os que simplesmente rodam, e a liturgia de segurança tende a ser menos banalizada pelas conseqüências que os problemas podem gerar. Em tese, porque a realidade dos automóveis está aí, matando gente como mosca, não sei quantos Vietnams por ano, por razões que vão desde escola fraca que forma pessoas sem a mínima noção de inércia até a crise com vinte e cinco aninhos de idade, que joga nas estradas geringonças que há décadas deveriam estar descansando nos ferros-velho.

Apuro o ouvido para identificar aqueles ‘ganidos’ quando me dou conta de que havia acabado de penetrar bem no centro de um grande grupo de golfinhos que nadava com seus pulos cantados. Se dizem que se comunicam, talvez o assunto fosse a minha intrusão. Mas não pareceu me darem atenção.

Situação de pensar rápido (se conseguir), o que me sucedeu foi primeiro parar o motor pensando na ameaça da hélice aos animais. Tal ação substitui o barulho do motor por barulho de espuma da posição de ‘freada’ do barco – de proa/frente levantada para abaixada, uma onda gerada pela hélice do barco passando por baixo, se deslocando para a frente. A seguir, silêncio apenas quebrado pelos assovios dos golfinhos e já podia entender melhor o cenário em que me encontrava.

Alguns minutos de estupefação entre o encanto de me encontrar ali, sozinho, entre aqueles grandes, simpáticos e emocionantes seres, com vestígios de susto por estar bem no meio de tantos e tão grandes espécimes.

Logo me ultrapassaram mantendo o mesmo ritmo de seus passeios líricos.

Eu permaneci à deriva por um bom tempo, entendendo a emoção e a graça dos momentos que tinha vivido.

28 de out. de 2006

Festa errada



Londres, anos setenta.

Um brasileiro que trabalhava como garçom num pot (restaurante barato) em Knightsbridge com a minha companheira chamou-nos para uma ‘festa’ no apartamento de um amigo inglês.

Era num squatter, um apartamento tomado em um edifício abandonado – naquele tempo pré-thatcher havia destas coisas. Em frente, na rua, havia morado a Elizabeth Taylor.

Na verdade a festa era completa : o morador, inglês gente finíssima, nós dois, o amigo brasileiro e um amigo do inglês, escocês que falava o fim das palavras como em alemão : o ch final do uísque “Glenfiddich” soava como gato assustado. Sentados em almofadas no tapete da sala a conversa fluiu aprazível e universal – anos setenta. Mais um casal bonito chegou.

Pelas tantas, o dono da festa anunciou que serviria uma sangria ‘lisérgica’. Ah, tripiar, ótimo !

A noite fluiu – muito por acaso - como que em estado de graça.

Madrugada, o casal último a chegar despediu-se com abraços envolventes e ardorosos.

Continuamos a conversar ternamente até o dia começar a clarear, quando nos despedimos todos.

O dono da casa - ao se despedir – pergunta de quem de nós o casal era convidado.

Havíamos, todos, nos nutrido de um honesto, despojado e límpido convívio com gentes aleatórias deste vasto mundo.

Are you lonesome tonight ?

Elvis nunca gostou de rock. E o mistério é que a família – mãe, tia e avós, testemunhas juramentadas de Jeová – também não podia ouvir falar em música profana. Teremos, pois, de esclarecer o porquê do nome através de uma trama noir, com ventilador de teto, persiana, um datilógrafo de costeletas crespas, um velho careca e uma loira fatal. Elvis tirou a tarde de ontem de folga e foi ao 3º Cartório de Registro Civil, para averiguar quem eram o tabelião e os outros profissionais do estabelecimento em 77, quando nasceu. Enquanto o funcionário de óculos de aro de tartaruga fuçava os papéis, suando vapor, Elvis se perguntou o que fazia ali o ventilador chiando feito gemido ensaiado de mulher que nunca chega lá. Aliás ele não fazia mexer nem as persianas empoeiradas que deixavam entrar fatiada a tarde amarela e sem graça. “Esse aqui”, disse o óculos de tartaruga, mostrando uma foto já descorada de um tipo com costeletona, “era o escrivão da época. Miron.” E, limpando o vapor na testa com a manga da camisa: “O dono do cartório na época morreu, deixou para o filho, que está de viagem. Sobrou só o Miron para você pesquisar”. Do cartório mesmo Elvis ligou e do outro lado atendeu um velho careca – mas que até hoje cantarola “Are You Lonesome Tonight?” sem errar a letra. “É, sou o Miron. Lembro do teu pai. Sujeito asqueroso, uma recaída da tua mãe. A família dela nunca gostou daquele ‘ateu sem volta’. Ele bebia e desconfiava de tua mãe. Achava inclusive que não era teu pai verdadeiro. Veio, bêbado, te registrar. Quando eu perguntei se o recém-nascido ia ter o nome do pai ele achou graça de eu falar ‘pai’ e disse, cínico, acho que para ele mesmo: ‘É o vizinho…’ Ouvi e pensei que seria o teu prenome, as letras todas juntas, e comecei a datilografar – achando justa aquela singela homenagem ao rei, justo no ano da morte dele. ‘Vai no diminutivo mesmo?’, eu perguntei, aí ele percebeu e disse ‘Pára!’ - então tive tempo de pelo menos não colocar o ‘inho’. Ele leu como ficou, riu e mandou deixar. Sumiu no mundo e te largou esse nome.” Elvis desligou o telefone com um estranho gosto de chiclete de uva na boca. E sim, a mulher fatal era Edilene, uma loira oxigenada sentada na recepção do cartório, esperando para reconhecer firma nuns papéis e que refrescava o busto suado abanando um exemplar antigo da Carícia.

27 de out. de 2006

Bilac

Delírio
Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
- Mais abaixo, meu bem! - num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
- Mais abaixo, meu bem! - disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...

Êxtase I

Sóbrio e só, experimentei duas situações dos sentidos se desprenderem das coisas materiais, um turbilhão súbito de sensações impactantes de surpresa, alegria, medo e tantas outras.


Uma nos anos 70, fazendo horas de vôo nos céus do sul da Califórnia, num Cessna 150 de dois lugares. O tempo estava completamente coberto de nuvens baixas, mas em fina camada. Até então só havia pilotado “visual”, em dia ou noite clara, mas já tinha algumas horas do curso seguinte, o de “vôo cego”, por instrumentos.
Assim, decidi furar aquelas nuvens e voar lá encima.
As janelas tornam-se leitosas por alguns minutos e logo começa a descortinar-se o belo algodoal das nuvens vistas de cima. Diferente do céu poluído e sujo lá de baixo, mostrava-se um azul profundo e límpido.
Até então o especial era que estava só naquele mundo estonteante, apenas eu, meu aviãozinho e o barulho delicado do motor.
Mas não durou aquele encantamento e levemente começou a insinuar-se uma sensação de medo. Comecei a me sentir um tanto estranho e pequeno ante aquela grandiosidade toda. O receio era a possibilidade neurótico-fantasiosa de não mais encontrar o planeta lá embaixo quando furasse as nuvens de volta !
Logo desci para conferir que embaixo daquele outro mundo continuava lá a Grande Los Angeles enfumaçada, cheia de estradas cheias de carros e daquele vazio way of life.
Mais em casa só se estivesse na Terra de Vera Cruz.

baby Elvis

Mississipi 1935 - 1977

Musas I

26 de out. de 2006

TVE Brasil

Porque será que a TVE Brasil mantém há anos na programação inserções em homenagem ao poeta Paulo Leminski ? Porque só ele e ao longo de tanto tempo ?

Que me acompanhe o distinto leitor na especulação pertinente :

( __) a – O Paulo Leminski é mesmo o maior poeta brasileiro de todos os tempos.

( __) b – Ninguém lembra de retirar a homenagem.

( __) c – Foi um projeto de homenagear a muitos, mas algum governo mudou e foi engavetado após a produção da primeira inserção. Aí alguém esbarrou no botão replay.

(__ ) d – O poeta é parente de alguém importante na emissora pública.

Trânsito I

Jovem e morando um tempo nos EUA, tive uma experiência de batida de trânsito que me ficou para sempre como exemplo da simplicidade rotineira com que a justiça pode funcionar :

Meia noite e eu retornava do trabalho atravessando uma pequena cidade encravada no meio de Long Beach, na Califórnia. Chama-se Signal Hill, nada além de algumas quadras de terrenos vazios com um monte de bombas extraindo petróleo. No cruzamento de duas vias de media velocidade um Mustang avança o sinal vermelho e bate logo atrás do meu assento (se não, já era). O carro, um Impala rodopiou até parar ( só serviu para vender para um ferro velho pelo preço da bateria ).

Em menos de cinco minutos aparece um carro da polícia.

No Mustang havia dois casais, os homens na frente e as mulheres atrás. Um policial questiona os dois homens do ocorrido, ambos afirmam que eu passei no sinal vermelho. O outro policial questionava as duas mulheres afastado alguns metros : “Não sei o que houve com o fulano, vínhamos de um bar e ele atravessou o sinal vermelho”. Não foi necessário aprofundar para a velocidade com que vinha - uns 120 km/h, excesso – que o estrago total de meu carro mostrava, ou possível estado etílico. Simplesmente multaram, no ato, o motorista do Mustang por avanço de sinal.

Aquela aplicação da multa no momento ‘quente’ do ocorrido fez instantaneamente a justiça, o Boletim de Ocorrência e o pagamento das despesas pelo seguro da parte culpada.

Sem ocupar qualquer mecanismo judicial.

24 de out. de 2006

Manual de sobrevivência para machos latinos I


Das fêmeas roliças

Macho, não desprezes as fêmeas gordas. Podes, com toda a propriedade, procurar evitar as fêmeas que te comprimam demasiado o corpo, ou que te impeçam de as segurar contra a parede se fores pouco dotado de músculo, mas não desprezes uma fêmea que tenha mais alguns quilos do que aquilo que se tem considerado esteticamente agradável.

É verdade que a mente do macho se orienta pela imagem. Uma fêmea bem arranjada, com roupa adequada ou totalmente desprovida de texteis, com aquele peso ideal, de silhueta magistralmente esculpida, é sempre bem recebida pelos nossos olhos. Olhamos para ela com desejo e fantasiando desde logo as várias maneiras de a conduzir ao local mais próximo onde podemos deleitar-nos com os quentes e húmidos que nos oferecem. E porque a imagem é o nosso domínio de perdição, as mulheres gordas têm uma tarefa muito mais complicada para nos seduzir. Não fosse a saúde razão suficiente para perderem peso, quanto mais não fosse para conquistar lugar à sombra do estômago dilatado de um típico macho lusitano, as fêmeas gordas procurariam sempre formas de melhor se apresentarem aos nossos olhos. Com roupa redutora, com exercícios, dietas pouco sensatas.

O macho atento deve ser capaz de valorizar uma fêmea roliça, não permitindo que por existirem quilos a mais a sua atenção se desvie, ou demonstre repugnância pela flacidez e abundantes camadas adiposas. Se o macho, por alguma razão, se apaixonar por uma fêmea gorda, saberá porque razão não devem ser desprezadas. Se nunca aconteceu, e se um macho continua a perseguir apenas a imagem elegante da fêmea magra, pense nisto por um instante: quando se ultrapassa a distância socialmente correcta, quando a imagem de um imenso corpo nú desaparece e dá lugar a um palmo de cara, depois de parte da essência masculina se esconder engolida por entre coxas amigas, olhando a fêmea olhos nos olhos, tudo muda.

Ao macho desatento aviso, então, que o que torna uma vagina nossa amiga não é a qualidade visual do invólucro, é a mente e a vontade com que se entrega. E a qualidade visual, já se sabe, é uma função pouco monótona.

Em : http://blog.geographus.com/

Tempos Modernos

La Paloma-UY

Este novo navio está equipado de acordo com os mais modernos conhecimentos da humanidade.
A saber, ele é atulhado de ponta a ponta com sinos, cornetas, relógios, fios e, me foi dito, pode tirar vozes do ar sobre as águas para pilotar o navio enquanto a tripulação dorme.
Mas durmam levemente.
Ainda não me foi dito que o MAR deixou de ser o MAR.

Rudyard Kipling, 1865 – 1936

Mário Quintana

Das Idéias


Qualquer idéia que te agrade,

Por isso mesmo...é tua.

O autor nada mais faz que vestir a verdade

Que dentro em ti se achava inteiramente nua ...

20 de out. de 2006

Camões


O vestibular da Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho de poema de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,

é um contentamento descontente,

dor que desatina sem doer "


Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:


"Ah! Camões, se vivesses hoje em dia, tomavas uns antipiréticos, uns quantos analgésicos e Prozac para a depressão. Compravas um computador, consultavas a internet e descobririas que essas dores que sentias, esses calores que te abrasavam, essas mudanças de humor repentinas, esses desatinos sem nexo, não eram feridas de amor, mas somente falta de sexo!"

Ganhou nota dez. Foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher...

Folclores




"A história da maçã
É pura safadeza
Adão comeu a Eva
E a maçã de sobremesa"


( 1954 - Marchinha de Carnaval - Jorge Veiga )

Mario Quintana


"Aos oitenta e três anos de idade, fugiu de casa.

Enfim realizou um antigo sonho de infância"

Alopécia

Numa cidadezinha histórica. Caminhava com um amigo bem careca quando começou a chover uma chuva de pingos grandes. O assunto de antes da chuva era a calvície.
Ele continuou : "o pior de uma situação destas é quando faz um barulho de tambores na cabeça da gente. A seguir começo a me perguntar se as pessoas que passam também estão ouvindo os tambores".

DVD ou OVO ?

Algumas coisas dão até grilo : será que só aconteceu comigo de um dia ler a imagem ao lado como OVO ?

Ou é megalomania ?

Foi chegando a Montevidéu, chovendo, os vidros do carro molhados. Nem gosto de lembrar.

To be or not to be ?


Qual terá sido o invento mais importante :

a TV ou o controle remoto ?