28 de out. de 2006

Festa errada



Londres, anos setenta.

Um brasileiro que trabalhava como garçom num pot (restaurante barato) em Knightsbridge com a minha companheira chamou-nos para uma ‘festa’ no apartamento de um amigo inglês.

Era num squatter, um apartamento tomado em um edifício abandonado – naquele tempo pré-thatcher havia destas coisas. Em frente, na rua, havia morado a Elizabeth Taylor.

Na verdade a festa era completa : o morador, inglês gente finíssima, nós dois, o amigo brasileiro e um amigo do inglês, escocês que falava o fim das palavras como em alemão : o ch final do uísque “Glenfiddich” soava como gato assustado. Sentados em almofadas no tapete da sala a conversa fluiu aprazível e universal – anos setenta. Mais um casal bonito chegou.

Pelas tantas, o dono da festa anunciou que serviria uma sangria ‘lisérgica’. Ah, tripiar, ótimo !

A noite fluiu – muito por acaso - como que em estado de graça.

Madrugada, o casal último a chegar despediu-se com abraços envolventes e ardorosos.

Continuamos a conversar ternamente até o dia começar a clarear, quando nos despedimos todos.

O dono da casa - ao se despedir – pergunta de quem de nós o casal era convidado.

Havíamos, todos, nos nutrido de um honesto, despojado e límpido convívio com gentes aleatórias deste vasto mundo.

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