31 de out. de 2006

Tribunal Judicial da Comarca de Cascais

Explicações de um operário português sinistrado, à Companhia Seguradora, a qual estranhou como ocorreu o acidente. Este é um caso verídico,cuja transcrição abaixo foi obtida através de cópia de arquivo da Companhia Seguradora. O caso foi julgado no Tribunal Judicial da Comarca de Cascais.

TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE CASCAIS

Excelentíssimos Senhores.

Em resposta ao pedido de informações adicionais informo:

No quesito nº 3 da participação no sinistro, mencionei a expressão :

"Tentando fazer o trabalho sozinho" como causa de meu acidente. Disseram na vossa carta que deveria dar uma explicação mais pormenorizada, pelo qual espero que os detalhes abaixo sejam suficientes :

Sou assentador de tijolos. No dia do acidente estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo, de 6 (seis) andares. Quando acabei o meu trabalho, verifiquei que tinham sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar para baixo à mão, decidi colocá-los dentro de um barril com a ajuda de uma roldana, a qual felizmente já estava fixada num dos lados do edifício, no 6º andar.

Desci e atei o barril com uma corda, fui para o telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagar (de notar que no quesito nº11 indiquei que o meu peso era de q 80 quilos). Devido à minha surpresa por ter saltado repentinamente do chão, perdi a minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Na proximidade do 3º andar, embati no barril que vinha a descer. Isto explica a fratura do crâneo e clavícula partida.

Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos das mãos estarem entalados na roldana. Felizmente que já tinha recuperado a minha presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos (refiro-me novamente ao meu peso indicado no quesito nº 11). Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao 3º andar encontro o barril que vinha a subir. Isto justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações das pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente que minimizou os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e, felizmente, só fraturei 3 vértebras.

Lamento, no entanto, informar que enquanto me encontrava caído em cima dos tijolos, com dores e incapacitado de me levantar, e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais que a corda e então desceu e caiu em cima de mim partindo-me as duas pernas.

Espero ter prestado as informações solicitadas do modo como ocorreu o acidente.

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