31 de jul. de 2007

Medo


Estes dias andei lendo o livro O medo na cidade do Rio de Janeiro – Dois tempos de uma história - de Vera Malaguti Batista – ed. Revan 2003 - Um competentíssimo estudo sociológico, desde os medos causados as elites pelas multidões nas cidades com a revolução Industrial até a nossa escravatura e a cidade na atualidade. O tema não deixa de lembrar o medo como forma de controle de que trata o filme “Tiros em Columbine”, do diretor Michael Moore. Acho mesmo que incluirei neste depositário de textos a serem lembrados algumas passagens desta interessante obra, alguns até cômicos, se não fossem trágicos.

A dedicatória já me toca especialmente : “Para Leonel Brizola, pelo destemor com que enfrentou o Império; pelo medo que sempre despertou nos caretas e nos covardes.”

A página 107 relembra-me o fato surreal que tanto revela da nossa “sociedade cordial” :

“No dia 4 de agosto de 2000, o Movimento dos trabalhadores Sem-Teto (MTST), integrado por moradores de ocupações na Baixada fluminense e na zona oeste, “invadiram” um shopping, uma espécie de templo do consumo no Rio de Janeiro, o Rio Sul. Na verdade era uma invasão estética, já que o objetivo era passear no shopping, e não tomá-lo. As autoridades da Segurança Pública no Rio de Janeiro souberam da iniciativa e tomaram precauções: os ônibus em que estavam os sem-teto foram parados na Avenida Brasil e impedidos de prosseguir por falta de documentos. Os sem-teto seguiram em ônibus comuns e encontraram o Rio Sul guardado por 40 policiais. A dona de casa Elizabeth da silva, 36 anos, do acampamento Araguaia, chorou ao ver os policiais: “Nós não vamos mexer em nada! Por que isso ?” (JB, 05-08-2000).

Segue comentários "dos dois lados" e análises do fato. Lembrança e reflexões imperdíveis.


Ingnorânça

Viajando pelo interior do país, constata-se a grande utilização da placa de trânsito "Proibido parar e estacionar" em qualquer rua. As cabeças municipais de trânsito a entendem simplesmente como ênfase à placa de proibido estacionar.

Uma hora destas vai se ter que inventar outra placa para sinalizar as vias rápidas, como a ponte Rio-Niterói.

Talvez esta :

22 de jul. de 2007

Transpostes Aéreos Marília

Em tempos de mais uma queda de avião da TAM, republico a sabedoria do Kipling. Quando no país-surreal o video está rolando como tendo a ver com o acidente, tratando-se apenas do mesmo modelo de avião.

Na verdade, a voz do video original (e antigo) é sobre o primeiro teste de aterrisagem de um avião completamente por computador.


Este novo navio está equipado de acordo com os mais modernos conhecimentos da humanidade.

A saber, ele é atulhado de ponta a ponta com sinos, cornetas, relógios, fios e, me foi dito, pode tirar vozes do ar sobre as águas para pilotar o navio enquanto a tripulação dorme.

Mas durmam levemente.

Ainda não me foi dito que o MAR deixou de ser o MAR.


Rudyard Kipling, 1865 – 1936

21 de jul. de 2007

O barômetro



(De Waldemar Setzer, professor aposentando da USP)
"Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova.
Tratava-se de avaliar uma questão de Física, que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele.
Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.
Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: "Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro. "
A resposta do estudante foi a seguinte: "Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele, baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício."
Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão.
Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.
Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
No momento seguinte ele escreveu esta resposta: "Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt^2 , calcule a altura do edifício."
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas. "Ah!, sim," - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro."
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações: "Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício". Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do edifício. "Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se a altura do edifício em unidades barométricas". Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença. "Finalmente", - concluiu: - "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: "Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.".
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade.

É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto".
Albert Einstein

8 de jul. de 2007

"As invasões bárbaras"

Ainda o assunto da morte remete ao sensacional "As invasões bárbaras", filme canadense de Denys Arcand, 2003.

O trailer em francês - que dá ganas de assistir ao filme pela oitava vez :


E a parte do discurso das das atrocidades históricas para a freira assustada - legendado em português ( há tempos tenho anotado fazer uma lista de algumas delas, dia destes sai ):



Como se não bastasse, também nos deliciamos com este colírio :




"Mar adentro"

O tema da vida e da morte me conduz ao belíssimo "Mar adentro", Alejandro Amenábar, 2004.

Assista ao trailer :

"As asas da vida"


Duas partes do documentário "As asas da vida" - Carlos Cristos, médico espanhol, 47 anos, sofria de Atrofia Sistêmica Múltipla, incurável e degenerativa. Pediu a um amigo que filmasse seus momentos finais.
Serenidade, dignidade, sanidade e senso de humor até o fim. Belo.




6 de jul. de 2007

"A revolução não será televisionada" - parte 7


Esta parte 7 é crucial - quando a zona se estabelece, rola o limbo do golpe.
A situação era como poderia ser no Brasil : um monte de canais privados dizendo mentiras e UMA TVE qualquer do governo com o sinal cortado - é o tempo estranho e longo em que a reação do povo pareceu tardar. Talvez só visível ao assistir ao documentário inteiro.
Uma cena rápida me chamou a atenção quando assisti na TV Câmara - uma imagem de fora dos portões do palácio mostrou um soldado fazendo um sinal de 'venceremos' para o povo que estava fora das grades. 'What´s porr´s that ?'
Crucial pelo desmantelamento do golpe medíocre mas - principalmente - pelas cenas dos ministros voltando aos seus postos e legitimidades. Pode-se ver o tipo de pessoas que eram e são : simples e dignas.
O governo constitucional se restabelece, mas ninguém sabe onde está o Presidente.

"A revolução não será televisionada" - parte 6


Esta parte 6 das 10 é curiosa, quando os golpistas se apresentam, quase como num teatrinho em que se iludiam com a realidade, demonstrando a estupidez, a primariedade e a ingenuidade com que - neste início de século 21 - acharam que eram beneficiários dos golpes da CIA dos inícios dos anos 60 : só erraram por uns quarenta anos ... O destaque vai para quando dissolvem TODAS as instituições vigentes em todos os três poderes !
Isto deve ser o que dizem : "soberbou na maionese".

"A revolução não será televisionada" - parte 4


Esta parte 4/10 do YouTube do documentário me toca de forma especial, pois desde sempre simpatizava com o Chavez mas não acompanhava com profundidade os acontecimentos da Venezuela. Afinal, os tempos eram do colapso das torres gêmeas, o pstu reclamava de alguns engraxates latinos que haviam morrido nos pisos inferiores, coisas assim.
Aí assisti à mesma montagem das cenas no Jornal Nacional da Globo, a mesma mentira só que com o 'padrão Globo de qualidade', ainda melhor editadas.
Pensei: 'esta é pesada, Chavez, assim não dá'.
Só alguns anos depois, em 2006, assisti este documentário na TV Câmara.

AQUI está a parte que conta a putaria montada e divulgada. Vale a pena assistir. Putaria na veia.