27 de out. de 2006

Êxtase I

Sóbrio e só, experimentei duas situações dos sentidos se desprenderem das coisas materiais, um turbilhão súbito de sensações impactantes de surpresa, alegria, medo e tantas outras.


Uma nos anos 70, fazendo horas de vôo nos céus do sul da Califórnia, num Cessna 150 de dois lugares. O tempo estava completamente coberto de nuvens baixas, mas em fina camada. Até então só havia pilotado “visual”, em dia ou noite clara, mas já tinha algumas horas do curso seguinte, o de “vôo cego”, por instrumentos.
Assim, decidi furar aquelas nuvens e voar lá encima.
As janelas tornam-se leitosas por alguns minutos e logo começa a descortinar-se o belo algodoal das nuvens vistas de cima. Diferente do céu poluído e sujo lá de baixo, mostrava-se um azul profundo e límpido.
Até então o especial era que estava só naquele mundo estonteante, apenas eu, meu aviãozinho e o barulho delicado do motor.
Mas não durou aquele encantamento e levemente começou a insinuar-se uma sensação de medo. Comecei a me sentir um tanto estranho e pequeno ante aquela grandiosidade toda. O receio era a possibilidade neurótico-fantasiosa de não mais encontrar o planeta lá embaixo quando furasse as nuvens de volta !
Logo desci para conferir que embaixo daquele outro mundo continuava lá a Grande Los Angeles enfumaçada, cheia de estradas cheias de carros e daquele vazio way of life.
Mais em casa só se estivesse na Terra de Vera Cruz.

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