7 de jun. de 2007

Correspondências


São deliciosas leituras as correspondências de grandes escritores com seus amigos. Registro uma recém trocada com meu irmão, em luz de monitor - que nunca virarão inocentes folhas de papel envelhecido.
-----Mensagem Original-----
De: irmão
Para: irmão
Enviada em: quarta-feira, 6 de junho de 2007 15:05
Assunto: gerais

Mano,

Fiz o joguinho e mandei para uns amigos, falta muita ou total sensibilidade nas máquinas, elas só executam rapidamente as coisas. Comigo, por duas vezes ele não chegou ao fim no objeto ou coisa que eu havia pensado, e, depois, fica dizendo que metal não é mineral, que baleia não é comestível, e assim vai... legal, mas fraco por ser mecânico. Conheço um de cartas ou números com umas 48 variáveis que se faz de cabeça, eliminando por perguntas e se chega exatamente a carta ou ao número que a gente pensou por exclusão como este, e sem erro, é o que deve ter originado este ai, que com um número enorme de variáveis se confunde e erra. Hoje está se atribuindo muitas coisas à informática, mas não é bem assim, tal qual aquela de números que me mandaste, aquilo é milenar e árabe, como sabes, só que com pirâmides coloridas, musiquinhas ao fundo etc..etc.. no final uma assinatura de fulana de tal... É válido somente para a relembrança.
Carro na rua: - Não deixo um minuto que dá azar. Domingo fui almoçar na minha filha, tomei um uísque e fui dormir, na rua tudo deserto, a tarde linda, quando voltei para casa notei que o carro estava aberto, mas, não tinha desaparecido nada, inclusive talões de cheques no porta-luvas permaneciam, tudo bem. Três dias depois fui colocar algo no porta malas e me apoiei no estepe e não tinha mais, zero quilômetro, nunca rodado. São especialistas, abrem o carro, vão direto ao estepe e levam somente ele, fica o macaco, a porca, o triângulo e até se tiver outras coisas, permanecem como estão, comprei outra usada por 100 pila.

Abraços do irmão
De: irmão
Para: irmão
Enviada em: quinta-feira, 7 de junho de 2007 17:43
Assunto: Re: gerais

Boa análise das tentativas cibernéticas.
Até agora de longe o principal efeito desta coisa foi aumentar desemprego com computadores, robôs, etc. E a concentração de renda.
Lembro de rever, anos atrás, um filme do Hitchcock em que o cara trabalha numa seguradora. A cena do lugar é incrível : igual a um ginásio coberto, as salas dos chefes ao redor e acima, ligadas por uma varanda aberta. No piso de área enorme, centenas de mesas e pessoas, cada uma com sua máquina de escrever. Lembro que nas mesas vazias a máquina estava em pé.
E pronto - alguns bits e todos perderam o emprego. Que maravilha a modernidade ! Tem gente que acha ótimo, claro que entre os humanos gostar da situação requer apenas e tão somente (êpa) estar ganhando bem. Veja-se como votam os americanos, por exemplo, só importa estarem podendo consumir.

A dos números era muito bonita. Eu não conhecia, ao menos deste modo como fizeram na apresentação de slides. Não gosto de matemática, mas como muitas coisas do universo, é uma óbvia manifestação de que se dizer que 'não se acredita em deus' é uma afirmação relativa, ou então o cara é um poste ou uma porta. Sábio acho que é não se acreditar no deus das religiões cristãs, rebaixado a gerente de lanchonete, que fica lá encima debruçado no balcão só dando esporro nas pessoas, tipo "êpa, tira a mão daí".
Já tudo que existe só vem a comprovar que a gente é piolho, que existe ALGO muuuuuuito superior, que pode até ser simplesmente eletricidade. Mas que a gente é piolho é, ainda que até estes piolhos sejam uma obra magnífica.

A coisa dos carros é interessante. Claro que é uma merda se viver num país assim (retornando ao assunto inicial, 99% dos ladrões, se houvesse emprego, prefeririam ter um, com uma casinha, uma mulherzinha e uma filhinha, morrer de velho e não antes dos trinta).
Interessante porque, por outro lado, estive pensando que sempre tive muita sorte - de verdade em batidas, nunca dei uma e só levei duas em uns 37 anos "governando autos", como diziam os velhos dessas bandas. Tu deves ter números maiores porque és muito agressivo dirigindo, desde a 'pechada' com o Austin na esquina do Avenida. Lembro que a grade de antimônio se quebrou toda ( uau, antimônio niquelado ! )

As famílias também são interessantes. Acho que a grande maioria é gente boa, que não tem iniciativas de fazer mal 'ao próximo'. Conversando com um parente idoso aí, ele comentou sobre o pai e mãe, que o namoro deles e o casamento encantou a todos, porque os dois eram pessoas excepcionalmente boas e doces ( até um pouco demais, não ? Provavelmente por causa da religião, um atraso de vida ). Assim, nós todos irmãos somos boas pessoas.
Ter sido casado com uma pessoa boa, ter tido um filho igual, acho que foram as melhores coisas da minha vida.

Bueno, tá ficando filósófia demais prum feriado tranqüilo, né ?

Abraço ao meu bom e estimado irmão.

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