3 de mar. de 2007

Europa


Marozinha querida,
Você já vai daqui a poucos dias ...
Muuuuito boa sorte pr'ocê nas bandas do velho mundo.
Mas sabe duma coisa ? Nunca esqueci de algumas sensações de viver no velho mundo depois de 2 - 3 meses: lembrei e jamais esqueci desta expressão 'velho mundo, novo mundo' que no meu tempo a gente estudava na escola. Foram poucos meses deslumbrado com as velhas e incríveis igrejas cheias de gárgulas alquímicas, tudo lindo e limpo para turistas (passeio silvestre já era, mesmo naquele tempo, na suíça: muitas vezes, uma pista cimentada no meio dos lindos matos não-tropicais, com plaquinhas de indicações...).
Então começou a sensação de que era tudo muito controlado (na suíça os carteiros eram meio policiais, pois quem melhor para controlar as pessoas que moram nas casas ? Eles diziam até que os psiquiatras tinham que resistir aos assédios da polícia prá entregar o jogo. E falo de 1974 ...).
No nosso novo mundo em plena ditadura isto era impensável. Logo comecei a ficar com medo que aquelas lindas velharias caíssem na minha cabeça ! Saudades, como dizem os alemães, da nossa livre 'esculhambação'. Liberdade só existe no descontrole. Todo controle é contra a liberdade. Naquele tempo a espanha era uma ditadura duns 30 anos dum cara chamado franco. No entanto, naquela bagunça subdesenvolvida latina encontramos liberdade como não se via na frança, na alemanha, na inglaterra, na suíça, na escandinávia ...
Acho que te falo estas coisas porque o Pedro, outro dia, disse que você está indo sem pensamento de voltar. Vê lá o que te parece em tua jovem e linda cabeça. Mas se te ocorrer sensações semelhantes às que te falo, aproveita estudando, aprendendo linguas, curtindo, vivendo, usufruindo, preparando para ... voltar com alguma vantagem adquirida, ainda que a própria estada já seja uma boa vantagem sobre os bípedes normais que rolam cá na terra.
Também nunca entendi direito o apego que os brasilianis têm por sua terra. Atravessamos pro outro lado da rua no Chuí e logo logo sentimos... saudades !
Num curso de 15 dias em portugal, uma vez, impressionou-me questionamentos simples e objetivos como custo de vida, e sentir que dependendo das minhas respostas, eles se mudariam para cá ! Que doideira, né ? Par autre cotê, nunca encontrei, vivendo no exterior, brasileiros que dissessem que eram felizes, ainda bem que nunca encontrei nem convivi com patrícios que negassem ser o que são : refugiados econômicos desta nossa terra querida há 500 anos em crise econômica.

Boa Viagem, Marozinha !

Rio,
15 de março de 2001.


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